"ou sou enrabado ou me vão ao cú"
Das duas uma: ou sou enrabado ou me vão ao cú - um dilema actual, mas não recente. Porque há coisas que nunca mudam, também nós, gente dos Tempos Modernos, à semelhança dos nossos antepassados, vivemos entre a espada e a parede. Entalados entre o que as nossas convicções, princípios e ambições nos incitam a alcançar, e os espartilhos a que o quotidiano de sobrevivência mundana nos limita. É uma guerra inglória, mas não para todos. Porque há heróis que não tiveram o caixão como estandarte. Mas até esses, a páginas tantas, optaram por ceder. Relembro o caso de Nicolau Maquiavel, cuja inteligência sempre me maravilhou - porque sempre admirei a inteligência em oposição à esperteza. Até este grande percursor do pensamento político moderno - e cujos escritos foram tão mal interpretados que, hoje em dia, o seu nome é sinónimo de maldade e falta de escrúpulos - foi obrigado a abdicar dos pontos de vista em função de um ideal maior. Não se tratou de uma renúncia, apenas de uma retirada estratégica, que lhe salvou a vida, permitindo também que "O Príncipe" visse a luz do dia. Considerações morais à parte, a obra tornou-se um "ex-libris" da arte governativa, que mantém a actualidade. Maquiavel inscreveu o seu nome na História Mundial, e por isso aparenta ter saído de uma outra dimensão. Erro. Ele também viveu aqui, simplesmente arriscou o suficiente para conseguir morrer na pobreza. Contraditório, ou talvez não. Talvez seja essa a chave do dilema "ou sou enrabado ou me vão ao cú", que dá o mote ao post. Nós - e quando digo nós, refiro-me a todos os que não nasceram com uma vida financeira privilegiada - temos que aguentar, impávidos e serenos, as incompetências, empregos que em nada nos realizam e a sensação permanente de ser a vida a viver-nos a nós, e não o contrário.
Mas a semente da discórdia está cá, de pedra e cal, plantada no nosso espírito. Queremos mais. Sabemos que podemos chegar lá, mas faltam-nos as forças para lutar. E que luta esta contra as contas do supermercado, electicidade e gás, renda da casa, ginásio, o jantar com os amigos, as férias junto ao mar, a roupinha da moda, o cabelo bem cortado, as unhas impecáveis, o dentista, o dermatologista, o ginecologista, a internet, o micro-ondas, o carro, a gasolina, o IRS, o tabaco, caracoladas e imperiais, a televisão, o computador, a máquina de lavar roupa, CD´s, DVD`s, livros, ... Que lista tão extensa e ao mesmo tempo tão redutora...
Será possível abdicar de tudo isto? Na prática, NÃO! Então como renunciar aos magros ordenados, mandar gente que não interessa para o espaço, e arriscar ser feliz? E arriscar empreender algo para se encher a boca com um: ao menos tentei?
Ou se mantém a profissão que já se percebeu que não é para nós, mas dá para as despesas maiores, ou se vai à luta, que não se afigura nada fácil. Resumindo: Ou se é enrabado, ou se leva no cú.
Pela parte que me toca, e farta de ser enrabada, decidi começar a levar no cú. Dei o grito do Ipiranga e disse que não me enrabavam mais. Em suma, passei dos desejos à acção. Iniciei uma guerra que não sei como irá terminar, mas que me sinto em condições para travar. E porque sei que, se continuasse assim, morreria assim. Sem tentar nada. Há algo mais inglório do que morrer sem tentar? Para mim, não. E surpreendentemente, as mudanças já começaram. Para melhor. Já pus mãos à obra, consciente de que, se não der a volta ao texto agora, nunca mais darei.
Mas a semente da discórdia está cá, de pedra e cal, plantada no nosso espírito. Queremos mais. Sabemos que podemos chegar lá, mas faltam-nos as forças para lutar. E que luta esta contra as contas do supermercado, electicidade e gás, renda da casa, ginásio, o jantar com os amigos, as férias junto ao mar, a roupinha da moda, o cabelo bem cortado, as unhas impecáveis, o dentista, o dermatologista, o ginecologista, a internet, o micro-ondas, o carro, a gasolina, o IRS, o tabaco, caracoladas e imperiais, a televisão, o computador, a máquina de lavar roupa, CD´s, DVD`s, livros, ... Que lista tão extensa e ao mesmo tempo tão redutora...
Será possível abdicar de tudo isto? Na prática, NÃO! Então como renunciar aos magros ordenados, mandar gente que não interessa para o espaço, e arriscar ser feliz? E arriscar empreender algo para se encher a boca com um: ao menos tentei?
Ou se mantém a profissão que já se percebeu que não é para nós, mas dá para as despesas maiores, ou se vai à luta, que não se afigura nada fácil. Resumindo: Ou se é enrabado, ou se leva no cú.
Pela parte que me toca, e farta de ser enrabada, decidi começar a levar no cú. Dei o grito do Ipiranga e disse que não me enrabavam mais. Em suma, passei dos desejos à acção. Iniciei uma guerra que não sei como irá terminar, mas que me sinto em condições para travar. E porque sei que, se continuasse assim, morreria assim. Sem tentar nada. Há algo mais inglório do que morrer sem tentar? Para mim, não. E surpreendentemente, as mudanças já começaram. Para melhor. Já pus mãos à obra, consciente de que, se não der a volta ao texto agora, nunca mais darei.
14 Comments:
Fico bastante feliz por teres decidido levar no cú, com entusiasmo e confiança, em prol de futuro melhor. São escolhas...E como é difícil fazê-las...:(
À parte disso, fizeste-me recordar uma das obras mais bonitas que já li o "Príncipe" de Maquiavel....vou relê-lo.
By lidia, at 5:51 da tarde, junho 25, 2006
Pressuponho pelo teu comentário que, para ti, é difícil deixares de ser enrabada... são escolhas, é isso mesmo, então. continuemos para bingo, eu a levar no cú e tu a seres enrabada hehehe
By AnaNin, at 7:32 da tarde, junho 25, 2006
Mas garanto-te que não estou assim tão entusiasmada quanto pensas lidia... é um mal menor :)
By AnaNin, at 7:40 da tarde, junho 25, 2006
Ananin,
Vais ver que quando começares a levar no cú, não queres outra coisa. Pelo menos, é o que me contam :-P
Pronto, não resisti à brejeirice...eu sabia que não ia dar bom resultado! :D
Muita força e muita sorte nessa nova etapa. Admiro muito esse "salto". Nunca vejo "O Príncipe" à venda. Gostava muito de o ler.
Bjs
By João, at 10:51 da manhã, junho 26, 2006
CONTA-ME TUDO!
By Anónimo, at 10:53 da manhã, junho 26, 2006
João: título destes justificam bem as breijeirices:) e se puderes lê "O Príncipe", é muito bom.
Márinho: vais ter que pagar muito bem!!! Já agora, onde tens andado?
By AnaNin, at 1:40 da tarde, junho 26, 2006
Só podes estra a gozar com essa pergunta ao márinho...era tudo o que ele queria que lhe perguntassem!!!!
By lidia, at 2:47 da tarde, junho 26, 2006
Oh não !!!!!!!!!!!!!!
By AnaNin, at 2:50 da tarde, junho 26, 2006
Acho que isso revela que andas a levar muito no cú...
By lidia, at 3:25 da tarde, junho 26, 2006
Lídia, tu desde que leste o meu post só falas em levar no cú? olha que eu estava a falar em sentido figurativo, mas se te entusiasma assim tanto posso sempre fingir que falava em sentido literal... :)
By AnaNin, at 4:13 da tarde, junho 26, 2006
Ah foi?!?! Não tinha percebido. Pensei que estavas numa de levar mesmo no cú!
Achei estranho, mas...
By lidia, at 6:56 da tarde, junho 26, 2006
Lídia: porque achas que eu gosto que me perguntam por onde andei? Achas que gosto de me exibir, eu? Que não sou nada disso?
By Anónimo, at 10:31 da manhã, junho 27, 2006
Ah pois não..
Eu se tivesse ido à Alemanha ver Portugal tb não gostava nada de me exibir...
By lidia, at 10:42 da manhã, junho 27, 2006
Mas tu Lídia és uma exibicionista, também conhecida pela mulher da gabardine que anda no jardim da estrela a aterrorizar os velhinhos que pacificamente jogam às cartas
By AnaNin, at 11:00 da manhã, junho 27, 2006
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