Teias de Aranha

terça-feira, abril 04, 2006

Os Von Trapp cá da terra

Não resisto. O bom gosto exige que fale da "Floribella", a nova telenovela da Sic, pois não conseguiria deitar a cabeça na almofada, à noite, e dormir bem com a minha consciência se não o fizesse. Não sou adepta de novelas, mas a minha profissão exige que me mantenha a par das novidades, saber quem são os actores, bla bla bla. E já estava muito curiosa em relação a esta grande aposta de Francisco Penim e da Sic. Pele que vi nas chamadas de apresentação, tinha praticamente a certeza de que não iria gostar. Cheirava-me a esturro, não sei... Mas não fazia ideia de que me esperava um retorno aos tempos do colégio em que eu e as minhas colegas representávamos peças na aula da sister Collum, professora de francês. Ver a Luciana, a miúda dos ídolos que todos chamavam de borboleta, a representar, recorda-me uma vez que fiz de Santa Teresa do Menino Jesus. Ia tão mal que doía... Tudo muito declamado, expressões faciais intensas, de sobrolho franzido para a dor, cabecita baixa para a melancolia, sorriso rasgado a mostrar toda a alegria que me ia na alma e, é claro, aquele olhar meloso e revelador de santidade, tão característico das meninas santinhas... Pois é, a borboleta é uma seguidora minha, nem ela sabe, mas é... E culpa não é dela coitadita. É uma estreante e acredito que esteja a fazer o seu melhor. A culpa é de quem lá a pôs. Por outro lado, com textos daqueles até o Robert de Niro se tornaria num canastro de primeira. Talvez por isso, toda a gente vá mal naquela novela. Até um cão, que apareceu numa praça como figurante e que em vez de deambular normalmente, andou só às voltas e às voltas.... Estava muito mal dirigido aquele cão.
O enredo é muito real... uma história igual a tantas que conheço. O Frederico (Diogo Amaral), um rapaz de, para aí, 26 anos, mora numa mansão com os irmãos e como são todos orfãos, é ele quem toma conta da família e gere os negócios e a casa com punho de ferro. As if... Com ele, são cinco irmãos, e os dois mais velhos, a quem Frederico costuma chamar de crianças, são dois marmanjos bem crescidotes. O rapaz, há muito que deixou a puberdade, e a miúda já almeja por umas boas trancaditas no banco de trás do pópó. Daí que faça todo o sentido serem tratados como se tivessem seis anos...Acontece que o Frederico tem uma namorada, que só quer casar com ele pelo dinheiro, e que vai lá para casa morar e leva a mãe, uma víbora do pior. Surreal é também Mafalda Vilhena fazer de mãe da jovem que, se não é da mesma idade, deve andar perto. Era a mesma coisa que me porem a mim a fazer de mãe da Maria João Bastos. Dava cá um realismo à coisa!!!E caso não tenham percebido já a futurologia da coisa, a jovem Floribella irá ser empregada deles. Uma espécie de família Von Trapp à portuguesa, topam? Uma Música no Coração tuga, em que as colinas de Salzburgo foram substituídas pelas ruas pachorrentas de Freiria, uma aldeia na zona de Torres Vedras. Mas pior que tudo é aquele perigo iminente da protagonista começar a cantar e a dançar, demonstrando o quanto está feliz. Curiosos? Isto tudo e muito mais pode ser apreciado diariamente na Sic. Aconselho a verem, é uma experiência tão válida como fazer bungee jumping, mas muito mais perigosa. E eu poderia estar aqui a escrever durante horas que nunca conseguiria dar a correcta dimensão da cólidade desta produção nacional.

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